Setenta e duas etapas para tecer um tesouro de Shandong — A trajetória de preservação e inovação do Lujin de Juancheng

Arte milenar renasce em novas formas e ganha espaço no mercado global, fortalecendo identidade cultural e impulsionando desenvolvimento regional.

0
29
(Foto: Reprodução / Heze)

O som ritmado dos teares ecoa pelos ateliês de Juancheng, no oeste de Shandong. Por trás das setenta e duas etapas que compõem o processo de produção do Lujin — o tradicional brocado de Shandong — está o talento de gerações de mulheres das aldeias do Vale do Rio Amarelo. Essa habilidade, transmitida ao longo de séculos, transformou-se de um item de dote em um símbolo da cultura chinesa no cenário internacional, sendo hoje reconhecida como um patrimônio cultural imaterial nacional.

Como importante expressão da cultura do Rio Amarelo, o Lujin registra a evolução das artesanato popular chinês. Sua peculiaridade em Juancheng está na produção totalmente manual e na complexidade de sua técnica de tecelagem. Desde a colheita do algodão até o tecido finalizado no tear, são necessárias setenta e duas etapas minuciosas que envolvem processos como fiar, tingir, organizar fios, instalar a urdidura, separar as tramas, ajustar o tear e iniciar a tecelagem — cada uma delas com subdivisões específicas e precisas.

“Entre todos os passos, separar e organizar as tramas é o mais crucial”, explica Liu Aiyu, herdeira representativa da técnica de tecelagem do Lujin em Juancheng. Ela destaca que é preciso passar cerca de 1.200 fios por posições exatas no tear para que o desenho final apareça com clareza. Embora simples em aparência, as ferramentas de madeira utilizadas permitem a criação de padrões extremamente complexos. Com apenas 22 cores básicas, artesãs experientes conseguem produzir quase duas mil combinações diferentes, formando desenhos vibrantes e intrincados — uma verdadeira obra de arte manual.

A história do Lujin remonta às dinastias Yuan e Ming, quando o cultivo de algodão se expandiu na região. Os moradores do sudoeste de Shandong incorporaram elementos tradicionais de tecelagem com fibras como cânhamo, seda e linho, criando uma versão única do brocado de algodão. Durante a Dinastia Qing, o Lujin de Juancheng tornou-se produto de tributo ao palácio imperial, consolidando sua reputação como item de excelência artesanal. Hoje, o Instituto de Artes Populares da Academia Central de Belas Artes ainda preserva centenas de padrões de Lujin da época tardia da Dinastia Qing.

Além de seu valor artístico, o Lujin sempre esteve profundamente inserido na vida cotidiana local — simbolizando proteção, prosperidade e tradição. “Amo essa técnica. É algo que meus antepassados deixaram. Seria um desperdício não dar continuidade”, afirma Liu Chunying, transmissora provincial do projeto nacional de patrimônio imaterial relacionado ao Lujin.

Nos últimos anos, Juancheng tem apostado em inovação para revitalizar essa tradição. O diálogo entre técnicas ancestrais e design contemporâneo tem ganhado força. Em 2018, um sachê de Lujin produzido pela Ruijin Arts & Crafts Co. de Juancheng foi escolhido para integrar o convite oficial da Cúpula da Organização para Cooperação de Xangai, conquistando grande repercussão internacional. Em 2024, a peça “Trilho de Mesa com Motivos de Pavilhão e Peônia”, produzida artesanalmente pela “Jingyifang”, conquistou medalha de bronze no Prêmio do Governador de Shandong em Design Industrial.

Políticas públicas também impulsionam essa nova fase. Treze departamentos governamentais de Shandong lançaram diretrizes para fortalecer a cadeia produtiva, incentivar a inovação e consolidar a marca do Lujin no mercado global. Além disso, iniciativas de comércio eletrônico e cooperações intersetoriais têm ampliado o alcance dos produtos, permitindo que o Lujin de Juancheng ultrapasse fronteiras e conquiste novos públicos.

A formação de jovens artesãos é outro pilar dessa revitalização. Oficinas, festivais culturais e programas de treinamento têm despertado o interesse de novas gerações pela tecelagem tradicional. Dessa forma, o Lujin deixa de ser apenas um legado preservado em museus e se transforma em uma cultura viva — que se reinventa, dialoga com o presente e continua conectando pessoas ao redor do mundo.

Do tear simples às vitrines internacionais, o Lujin de Juancheng reafirma que tradições verdadeiras não são imutáveis: são aquelas que conseguem acompanhar o tempo, mantendo sua essência enquanto encontram novas formas de existir.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui